Escolhida para atuar no Hospital Roberto Santos, Sabore é acusada de fraudes

A relação entre a Secretaria de Administração da Bahia (Saeb) e a Secretaria de Saúde  (Sesab) com a empresa Sabore  e Cia já tem todos os elementos necessários para uma crise: suspeita de fraude, denúncia de falsificação e o que pode ser a permissividade das duas pastas. O enredo teve início em 21 de março, quando a Sesab fez um chamamento emergencial para escolher a empresa que forneceria alimentação ao Hospital Roberto Santos por 180 dias. Com a desistência da vencedora, a Sabore assumiu o posto, arcando com o valor de R$ 15.337.165,68. 

Só que as denúncias quanto à idoneidade da empresa ganham um capítulo a cada dia. Além de ser acusada de não ter capacidade para assumir e de usar expedientes nada corretos para se classificar, ela consegue privilégios e se vê no direito de questionar outras empresas. 

Atestados incompatíveis com o trabalho em um hospital como o Roberto Santos
De acordo com fontes ligadas à Metrópole, a Sabore não preenchia sequer os requisitos necessários para participar da concorrência do processo emergencial de escolha da empresa que forneceria alimentação para o Hospital Roberto Santos. 

“Ela não tinha nenhum atestado compatível com o objeto (...) Apresentou quatro atestados: um de uma empresa de poste, um de assessoria, um de recrutamento de recursos humanos e outro. Então, ela não tinha nenhum compatível com o serviço hospitalar, de fornecimento de dieta para pacientes”, explica.

“Suspeita de fraude em todos os atestados”
E as irregularidades não param por aí. A documentação apresentada pela Sabore Cia tem outras diversas incoerências: “Tinha um [atestado] que dizia: ‘Fornecimento de refeições de 2007 a 2015’”. Acontece que a empresa tem como data de fundação 28 de novembro de 2008. “Quatro atestados colocam como responsável técnica uma nutricionista que só se inscreveu no Conselho de Nutrição no final de 2014 e virou responsável técnica da Sabore em julho de 2015. Como ela era responsável desde 2007? Existe uma suspeita de fraude em todos os atestados”, explica a fonte.

Irregularidades em nova licitação
As denúncias não impediram que a empresa fosse escolhida novamente para prestar serviços para o Roberto Santos em outra licitação, supervisionada pela Saeb. A Sabore apresentou os mesmos documentos supostamente fraudados. Quando tomou conhecimento das denúncias, o governo a afastou “pelo prazo de 90 dias, de forma cautelar, para a contratação de fornecimento de alimentação no Hospital”. Porém, a determinação não tirou a empresa do posto.

Saeb explica permanência
Segundo a Saeb, a continuidade é mantida através do contrato emergencial de março, este fiscalizado pela Secretaria de Saúde. Já em relação à licitação da qual a Sabore foi excluída, a Saeb afirmou que a DSA refeições foi declarada vencedora, mas como a Sabore e outra empresa entraram com recurso, o resultado final será divulgado até dia 14 de julho – data em que a empresa deve deixar o hospital.  “O ganhador assinará o contrato e estará apto a prestar o serviço”, explicou. 

Privilegiada pelo governo? sesab nega pagamento antecipado a fornecedora
A Sabore ainda estaria sendo privilegiada quando o assunto é pagamento. Como apurou a Metrópole, a empresa recebeu a segunda quinzena de maio bem antes das outras fornecedoras. O Portal Transparência mostra que os últimos três pagamentos feitos à empresa aconteceram nos dias 16 de maio, 10 e 21 de junho, sendo R$ 1.021.982,94, R$ 963.258,78 e R$ 949.483,37, respectivamente — o que soma quase R$ 3 milhões. A Sesab nega a diferenciação no repasse. “Os processos de pagamento são abertos à medida que as notas de comprovação são apresentadas”, disse, em nota. 

Sabore acusa nova empresa de fraudes
Curioso é que, na licitação definitiva do Hospital Roberto Santos, a Sabore manifestou a intenção de interpor recurso contra a escolha da DSA Refeições, terceira colocada no certame. 
Agora desclassificada, a Sabore afirmou que a DSA “não apresenta a capacidade técnica exigida, não apresenta equipamentos necessários, e nem capacidade financeira suficiente” para assumir o fornecimento. E ela, tinha?

Empresa nega problemas
Procurada pelo Jornal da Metrópole, a Sabore afirmou que cumpriu rigorosamente os prazos, trâmites, obrigações e documentações exigidas. “Nossos serviços prezam pela qualidade e excelência no atendimento, além de oferecer ao cliente os melhores produtos ofertados no mercado”, limitou-se a declarar. A empresa não se posicionou sobre as denúncias de fraude. 

Parentesco é conhecido
A empresa está registrada em nome de Carolina Tocchetto Pauperio e Maria Josilene Silva de Jesus. Carolina é irmã do ex-secretário de Gestão de Salvador, Alexandre Pauperio, que deixou o cargo após suspeita de participação em um esquema de desvio de verbas.  Carolina é representada por Diego Martins, ex-prefeito de Coração de Maria, na Bahia, que já foi multado pelo Tribunal de Contas dos Municípios por irregularidades praticadas nos exercícios de 2008 a 2010. Ele é filho do deputado estadual Ângelo Coronel (PSD).