Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Home

/

Notícias

/

Cultura

/

Tradição familiar de Itapuã, Caruru de Cira do Acarajé faz 85 anos com exuberância

Cultura

Tradição familiar de Itapuã, Caruru de Cira do Acarajé faz 85 anos com exuberância

O evento tem um custo de R$ 30 mil e recebe a população do bairro e convidados de toda a cidade

Tradição familiar de Itapuã, Caruru de Cira do Acarajé faz 85 anos com exuberância

Foto: James Martins / Metropress

Por: James Martins no dia 24 de setembro de 2024 às 08:42

Atualizado: no dia 24 de setembro de 2024 às 08:51

O caruru oferecido por dona Jaciara de Jesus, conhecida internacionalmente como Cira do Acarajé, falecida em 2020, completou 85 anos neste 2024. Oferecido em Itapuã, bairro onde a quituteira residia e onde sua família permanece, o evento aconteceu nesta segunda-feira (23) e serviu a mais de mil pessoas, entre convidados e quentinhas distribuídas. A população do bairro comparece em peso e, por isso, a cerimônia do caruru exige atualmente uma verdadeira estrutura profissional, com funcionários organizando o acesso e outros trâmites que lembram um show.

A tradição foi iniciada pela avó de Cira, segundo conta dona Cristina de Jesus, ou Cristina do Acarajé, primogênita da baiana, que assumiu a direção da empresa da família. “Foi uma promessa de minha bisavó para Cosme e Damião. A gente não sabe mais qual foi o voto, mas passou dela pra minha avó, que se chamava Odete Brás de Jesus. Mainha começou a dar o caruru na mesma Rua Olhos d’Água, aqui em Itapuã, com 13 anos de idade, que foi quando ela ficou órfã, assumiu o tabuleiro e passou a criar os quatro irmãos mais novos”. 

Presente pela primeira vez, a estudante de gastronomia Wendy Moira não disfarçava a emoção ao ver os sete meninos reunidos sobre o tecido branco com flores bordadas. Ali, eles receberam cada um seu pratinho, abrindo a cerimônia sem a costumeira "barbúdia". Já em outro momento, ao degustar o seu próprio caruru, elogiou: "Uma delícia. E é impressionante pensar que estou participando de um compromisso que faz 85 anos. Me sinto muito honrada", disse.

“Para o caruru, eu compro 2 mil quiabos, 240 quilos de galinha, 30 quilos de feijão preto, 30 quilos de feijão fradinho, 30 quilos de arroz, 30 quilos de farinha, dois feixes de cana, 3 abóboras grandes, meio saco de batata doce, 10 pencas de banana da terra pra fritar, fora mel, rapadura e muito dendê porque ainda fazemos mil acarajés e mil abarás", informa Ana Paula ex-nora e gerente do tabuleiro de Cira do Acarajé no Rio Vermelho.

E não para por aí, pois o Caruru de Cira estabeleceu uma inovação: acontece em duas etapas. Os inumeráveis doces e as tentadoras tortas expostos no salão são servidos no dia seguinte — no caso, nesta terça (24), também às 17h30. "São 21 tortas, fora o bolo de São Cosme, que é enorme, 30 pacotes de refrigerante (com 6 garrafas de 2 litros cada), mais 30 pacotes de pitchulinha, fora bala, pirulito e doces diversos, inclusive os do tabuleiro, que é o de tamarindo, a cocada-puxa e a cocada normal”, arremata.

"Eu moro na Boca do Rio, venho a esse caruru há muito tempo, e acredita que nunca comi um docinho? Não venho no dia seguinte e perco", lamenta em tom de brincadeira Marinalva, uma das convidadas. E quem sabe, sabe que doce de preceito não se rouba, não se futuca, nem se come antes da hora ou sem a devida liberação. As mesas exibindo todos eles, absurdamente coloridas e convidativas, são um verdadeiro exercício de disciplina e austeridade.

Ana Paula afirma que o custo total da produção do evento é de R$30 mil reais, valor bancado com recursos próprios da família. Ela assegura que o Caruru de Cira é o maior entre todos os oferecidos no bairro de Itapuã. E não contém o orgulho ao cogitar que também seja o maior de Salvador.