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Domingo, 31 de março de 2024

Brasil

"Fiquei bastante deprimido", diz juiz que negociou rendição de "homem-bomba"

O juiz federal Durval Carneiro Neto, da Vara de Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros na Bahia, esteve presente nas negociações entre policiais e um suspeito de um atentado terrorista neste domingo (24), no Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge). [Leia mais...]

"Fiquei bastante deprimido", diz juiz que negociou rendição de "homem-bomba"

Foto: Alberto Maraux/SSP

Por: Matheus Simoni no dia 25 de julho de 2016 às 06:02

O juiz federal Durval Carneiro Neto, da Vara de Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros na Bahia, esteve presente nas negociações entre policiais e um suspeito de um atentado terrorista neste domingo (24), no Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge). Ele foi chamado para convencer Frank Oliveira da Costa a se entregar.

O rapaz ameaçava explodir uma bomba no prédio e exigia a presença de um juiz federal para que ele assinasse um termo, que comprovaria sua capacidade para passar na prova. Segundo o magistrado, Frank já havia cruzado seu caminho no mês passado. "Há cerca de duas semanas, eu estava no plantão judicial e esse cidadão esteve no prédio dos Juizados Federais, insistindo em falar com o juiz. Como já eram mais de 19h e ele se mostrava visivelmente agressivo, a segurança me contactou sobre como proceder", disse Durval Neto em seu Facebook.

"Porém o rapaz não falava coisa com coisa, gritava muito, negou-se a entregar sua petição ao diretor e queria a todo custo falar pessoalmente comigo, tendo a segurança barrado o acesso. Liguei então para a portaria e pedi para garantirem a ele que eu iria ler o pedido e que se fosse realmente urgente, despacharia imediatamente no plantão. Quando recebi o expediente dele, vi um texto totalmente desconexo, questionando o exame de ordem e outros pontos que não consegui compreender, mas sem qualquer urgência, até porque o exame ainda seria dali a duas semanas. Diante disso, encaminhei à livre distribuição. Eu soube que o pedido dele está tramitando normalmente", declarou.

O juiz federal disse que recebeu o chamado após os policiais destacarem a relevância da presença de um magistrado para contornar a situação. "Chegando ao local, fui levado a uma sala onde o coronel Coutinho, comandante do BOPE, explicou-me que o jovem disse que somente se entregaria se um juiz federal assinasse uma 'sentença' que ele havia elaborado, para com isso 'provar' estar ele apto a exercer a advocacia. Me foi então apresentado um papel escrito pelo rapaz, de caneta, no qual ele colocou um espaço para assinatura com a indicação 'juiz federal'. Eu assinei e entreguei minha carteira funcional ao policial, para que o rapaz visse que era um juiz federal realmente ali. Então, o rapaz disse que inclusive tinha sido meu aluno e se entregou logo em seguida", contou.

Para o juiz, o rapaz deveria ser atendido por psiquiatras. Ele ressaltou o trabalho da polícia para que o caso tivesse um desfecho positivo. "Quero dizer também que fiquei bastante deprimido com o que vi. Um rapaz novo, mal vestido, abatido e que precisa de cuidados psiquiátricos. Na sua mochila nada havia além de pano velho, frutas (duas bananas nanicas) e balas de gengibre. Mas ele realmente portava um cinturão verde com alças, dando a impressão de conter bombas. Daí o pânico que gerou", relatou Durval.